De mulheres, para mulheres

Marcas e negócios são ilhas cercadas de mulheres por todos os lados

Uma coisa que chama muito nossa atenção ultimamente no mundo das marcas é o conceito business by women for women. Se por um lado estamos vivendo numa realidade caótica, na qual parece imperar sentimentos de radicalismo e abandono (e não estamos falando a partir do ponto de vista político – apenas), por outro, há que se valorizar a abertura que temos experimentado em avançar nas questões de gênero, representatividade e empoderamento dos diferentes grupos que compõem a sociedade. Já era – é e será, se depender de nós – hora de escancarar as desigualdades e trazê-las ao centro do debate.

Dados mostram que a presença feminina em posições de liderança ainda é baixíssima, e não somente no Brasil. No índice do Standard and Poor’s 500, (índice do mercado de ações que acompanha 500 empresas dos Estados Unidos de capital aberto), mulheres constituem apenas 6,2% de todos os CEOs. Outra limitação à qual elas se deparam é a falta de diversidade nos tipos de negócios desenvolvidos. Uma pesquisa da GEM, elaborada pelo Sebrae em 2020, mostra que as empreendedoras atuam principalmente em 6 segmentos – entre eles alimentação, beleza e vestuário. Já entre os homens, esse número sobre para 14.

E como anda a autoestima das mulheres? Um estudo realizado pela Kantar (WPP) em 2019 no Reino Unido, batizado What women want, revelou que 85% acham que o cinema e a publicidade fazem um trabalho ruim ao retratar as mulheres do mundo real, levando dois terços delas a pularem os anúncios que as estereotipam negativamente. A mesma pesquisa realizada em 2021 com mulheres Latinas aponta que apenas 25% delas se sentem confortáveis e livres para decidir sobre seu corpo e sua sexualidade, mostrando que ainda há muito a ser feito pelas marcas em termos de representação.

Sabendo que ainda há um longo caminho a percorrer, mas olhando outra vez para o lado bom dessa discussão, buscamos referências de marcas e organizações encabeçadas por mulheres que estão virando o jogo.

A primeira é uma lista elaborada pela Obvious Agency, que por si só é uma inspiração, dada a forma revolucionária como ela constrói conteúdo sobre e para mulheres (tem de tudo: direitos das mulheres, maternidade, autocuidado, sexo, carreira, autoestima, relacionamento, cultura, tendências). A Obvious compartilhou uma lista com seis pequenos negócios criados por mulheres brasileiras e como suas marcas se colocam de maneira positiva e afirmativa. Dá uma olhada, vale muito a pena!

Website 8Women 01 07
www.instagram.com/obviousagency –

Outro exemplo que achamos incrível é o da consultoria Filhos no Currículo, que convida empresas a repensarem as suas relações de trabalho e desconstruírem vieses sobre pais e mães. A iniciativa surgiu quando Michelle Terni e Camila Antunes, as duas fundadoras, se tornaram mães e se depararam com um mercado de trabalho hostil àqueles que buscam ter um equilíbrio entre vida familiar e vida profissional. 

É interessante notar também nos Estados Unidos o surgimento de marcas lideradas por mulheres na categoria de bebidas alcoólicas, um setor tradicionalmente tomado por homens e pensado para os homens. A atriz Eva Longoria lançou ano passado sua própria marca de tequila Casa del Sol, que se inspira na deusa do agave, Mayahuel. Yola Mezcal também representa essa tendência: a marca abertamente feminista fundada e administrada por 3 mulheres busca promover autonomia para as suas parceiras que cultivam o agave e produzem a bebida na região de Oaxaca, no México. Indo mais longe, a marca promoveu o Yola día, um festival de música “all-women”, onde as mulheres estavam presentes por todos os lados: no palco, atrás dos bares, e até na segurança do evento. 

Mulheres no poder puxam outras em um círculo virtuoso, como provam os números: a pesquisa IRME 2021 afirma que 73% dos negócios liderados por mulheres são majoritariamente femininos. E mais, nesse artigo da Endeavor podemos ver o impacto direto que uma líder como a Luiza Trajano tem em um ecossistema formado por centenas de mulheres, através de suas ações como empreendedora, mentora, investidora e inspiradora.

Website 8Women Graphic Endeavor
endeavor.org.br –

Há também um movimento crescente e poderoso quando o assunto é a desconstrução do tabu da menstruação. Um exemplo de campanha aqui no Brasil é a #ChegadeEstigma, da Intimus, marca de cuidados íntimos da Kimberly-Clark®. “A campanha tem o objetivo de convidar a sociedade a quebrar paradigmas e crenças negativas relacionados à menstruação, os quais colocam a mulher num lugar de fragilidade e limitação”, explica Samia Chehab, diretora da categoria, que emenda, “o meu papel é cada vez mais dar voz e espaço a essas causas e também atender a uma expectativa dos consumidores e consumidoras atuais, que esperam um posicionamento ativo das marcas na sociedade”. Outra mulher, Thais Hamer, que atende Intimus pela CBA B+G, faz coro com Samia: “a liberdade que eu vivencio hoje no trabalho e o propósito de marcas que atendo, como Intimus, em sinergia com meus valores me realizam e motivam para seguir construindo um mundo mais justo, com espaço para todas e todos.” 

E não para por aí: uma recente colaboração da Pantone® com uma marca sueca de coletor menstrual resultou na cor Period (menstruação), numa campanha que visa promover positivamente o período menstrual, encorajando pessoas, independentemente do gênero, a ficarem mais confortáveis e espontâneas em discutir e normalizar o tema.

Website 8M Single Img
www.instagram.com/pantone/ –

Transcendendo negócios, é fundamental destacar o lugar das mulheres nessa pandemia. Por um lado, é triste ver que as empreendedoras foram as mais impactadas nesse período, já que elas encontram dificuldades dobradas com a jornada dupla, em casa e no trabalho. Por outro, vale relembrar que, dos 12 países que melhor enfrentaram a pandemia, nove são dirigidos por mulheres. É evidente o papel positivo do olhar e tratamento femininos na liderança das soluções possíveis frente ao ambiente pandêmico.

E por falar em olhar, o que vemos quando olhamos pra dentro? Como estamos, em nossa comunidade CBA B+G, em relação às mulheres? De que lugar estamos dialogando nessa luta por uma mudança e evolução sociais?

Dentro de casa, as mulheres são nada menos que 65% do total de colaboradores e, quando olhamos para os cargos gerenciais, elas ocupam mais da metade dessas posições (54%). Dada essa representatividade, iniciativas simples e de impacto têm sido buscadas e tomadas. Desde 2019, implementamos uma política interna voltada às mães, cientes da dificuldade em encontrar um equilíbrio entre os papéis vividos nas esferas familiar, social e profissional no primeiro ano da nova maternidade: além dos 4 meses garantidos por lei, uma jornada reduzida e progressivamente reestabelecida, sempre em regime home office, busca oferecer um retorno às atividades normais para as mães a partir de 12 meses do nascimento do bebê.

Para além dos números, e pressupondo a contaminação estrutural a que todos estamos expostos, a observação do tema gênero continua sendo feita com cuidado. Como por exemplo nos cargos de diretoria, onde das quatro posições, apenas uma é liderada por uma mulher. “A palavra-chave é equilíbrio”, enfatiza Shirley Rodrigues, gestora do RH. Ela complementa: “A busca por equidade é um dos motivos que justificam o estudo interno que estamos realizando para entender, historicamente, como se dão nossos processos de contratação e evolução profissional e entendermos no curso do tempo, por exemplo, se lidamos com os gêneros da mesma forma. E se não, quais os fatores desse desequilíbrio, ainda que o ambiente gerencial, cuja voz é ativa nas promoções e bonificações, seja majoritariamente feminino. Queremos entender o que é estrutural – e, portanto, invisível aos argumentos; o que é cultura – que precisa ser revisto; e por fim, o que é contextual e passageiro… um movimento constante de análises e ajustes, que, pela primeira vez, mesmo que após mais de duas décadas de operação, estamos entrando a fundo.”

De marcas a produtos, de histórias pessoais à política social, entre países e continentes e, em todas suas esferas, mulheres carregam dentro de si o poder da transformação em um mundo que pede equilíbrio, através de soluções aderentes ao feminino. Para finalizar, gostaríamos de brindar com uma cápsula do tempo, lembrando hoje e sempre de alguns ícones do feminismo. Para imprimir e colar na sua parede fúcsia, ciano, preta, period ou da cor que bem entender!

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